sexta-feira, 15 de julho de 2016

Carta para o mundo!


Quando alguma fatalidade atinge nossas vidas ou vidas de pessoas próximas, tentamos imaginar se poderíamos ter feito algo diferente, algo que pudesse mudar o curso da tragédia, ou mesmo tentar lembrar quais os nossos últimos passos ou se poderíamos ter feito outra rotina, outras ações que resultassem no cancelamento do sinistro. Talvez seja uma sensação que todos tenham, ou não, cada um sente de uma forma diferente. As tragédias são sempre acompanhadas de algumas lágrimas, arrependimentos, agradecimentos nunca ditos, perdão nunca dado, declarações de afeto jamais manifestadas, sentimento de culpa.

A pior parte da fatalidade é quando acontece connosco, é quando acreditamos que aquilo nunca acontecerá, que somos imbatíveis, que somos de aço, que temos uma muralha de gelo nos protegendo dos caminhantes brancos, mas no fim percebemos que estamos todos prontos para perder, que estamos ao ponto de sofrer, que no piscar de olhos nossa muralha de gelo pode derreter.

Falando assim me lembro daquele triste e desesperador dia 19 de setembro de 2015, quando minha Bia foi atropelada, seu corpo jogado no chão, as terras nos cabelos, tão pequena, tão indefesa, mas graças a Deus, nada de tão grave aconteceu, mas naquele dia percebi o que é não ter chão, o que é ser de palha, o que é ser vulnerável e justamente naquela madrugada, naquele gelado hospital cheio de doença e morte, fiz os meus passos naquele sábado, 19 de setembro de 2015.

 Fiquei imaginando o que poderia ter feito de diferente, poderia ter autorizado sua ausência no cursinho, poderia ter saído com ela para fazer outra coisa, poderia ter deixado o caderno de lado, poderia ter abraçado mais, falado mais. Ao despedimos naquele sábado, eu nem abracei e nem disse o quanto amava, foi apenas um “tchau”, pois estava distraído demais lendo sobre “Ativos Intangíveis”, mal sabia eu que um dos meus maiores bens poderia virar um intangível. Em casa olhei o relógio e nada dela chegar, às 19:15 horas um carro para na calçado de casa o som do portão me assustou e imaginei que algo já estava acontecendo. Minha irmã entra chorando, falando coisas bem difíceis de entender, ao sair e verificar o que foi a informação processada tirou o chão de mim, não lembrava nem do meu nome naquele momento, nem da pessoa que estava dirigindo. 

Chegando no local da tragédia ouvi “Levaram o corpo”- as pessoas deveriam fazer um curso de como informar eventos ruins à pessoa que sofre de coração- minha pressão subiu, o coração quase parando a respiração indo..., mas eu precisava continuar de pé, firme, minha filha não poderia estar morta e graças a Deus não estava.

Ao chegar no hospital fui encaminhado para a sala de emergência, fiquei pensando nos sinais, foi dado algum? Não lembro, ela não merece isso, se acontecer algo com ela...não sei o que fazer, o que vou fazer? Leve-me, permita que ela fique e tantos outros pensamentos soltos e pedidos e lágrimas queimando o rosto, minha mãe chegou um pouco mais tarde, sem chão e com o rosto tenso, triste e mais velha, mas eu já estava no comando e não deixarei ninguém me tirar de perto de Bia, eu sei, egoísmo demais. Minha mãe permitiu que eu ficasse, aquela seria uma das noites mais marcantes da minha vida e dela também. Ela particularizou que imagina o que poderia ter feito de diferente, que rua deveria ter tomado, que atalhos seguidos, eu penso na mesma coisa. Os talhos que ignoramos talvez sejam nossa salvação!


O pensamento de alterar o sábado continua na minha mente, nas minhas memórias, nos meus sonhos, até a roupa do acidente, ela já não usa mais! Pessoas já entravam mortas, sim conheci um pouco do inferno. Frases do tipo “leva para pedra”, “tem família? ”, “a mãe está lá fora”, “esse não tem jeito”, coisas do tipo. Fico pensando será que os pais daqueles 3 jovens que morreram naquela sala pensam do mesmo jeito? Pensam que poderiam ter feito algo de diferente, poderiam não ter dado carro, permitido ir ao baile...não sei, mas sei que eles perderam muito naquele dia e agradeci a Deus por não perder! Fazer os passos talvez não seja bom, citando o corvo de três olhos, o passado já foi escrito e a tinha está seca...mas que pensamos nisso, pensamos. 

Poesia Encarnada


Poesia encarnada

 

Como um quase total descrente nas ilusões religiosas e  místicas, espiritualistas ou esotéricas,desnudo-me em sangue e cinzas perante o que é festivo. Porque há algo de tragédia no belo, e há algo de belo no que já se foi. Sei que escapo de ilusões para cair em outras. Mas porque esta ilusão da poesia é mais doce e bucólica, deixo-me  ficar nas paragens da casa em meio a lugar algum, deliciando-me com um café que não se equipara a qualquer outro, e convido-a para se juntar a mim, ainda que sei que nos sentaremos em uma mesa, frente a frente, e ainda assim seremos sós, cada qual com seus mistérios e angústias.

Não há o que diga que as coisas necessitam ser como são. Sei que foram acontecimentos fortuitos, evolutivos, biológicos, sociais e... Tantos outros unidos... Acontecimentos que fizeram com que mulheres engravidassem e não homens, que mulheres fossem mães e homens fossem pais, que cada qual possuísse formas delineadas na história, na biologia, na cultura e na sociedade. À rigor, neste deserto idílico onde me encontro e onde convido-a a estar, não importa qualquer cultura, ainda que saibamos sermos constituídos, mesmo que inconscientemente, por aspectos dela. O que importa é que mesmo nesta tessitura social e histórica ambos somos seres autênticos, existencialmente sós, mas ainda assim desnudos de forma a vermos, cada qual, suas cicatrizes. Porque essas são nossas chagas, essas são nossos símbolos, essas são toda nossa religião. A religião da dor, de um mar de sangue e lágrimas, de tempestades, profunda escuridão, de mistérios, sofrimentos, solidão e luta. E assim, porque desta forma somos, sabemos hoje o verdadeiro significado do belo. Sabemos pintar em quadros o verdadeiro significado particular do que é existir no mundo pelo tempo e através do tempo. Beba este café comigo, minha querida companheira. Porque aqui estamos desnudos de qualquer título social. Somos andarilhos da mesma estrada, transcendendo o próprio conceito do que é o tempo e do que é existir, para então pousarmos ambos no pico nevado da existência e vislumbrarmos os páramos astrais com ar de poesia, tornando-nos a própria poesia encarnada no mundo.

 

Escrito para minha mãe no dia das mães de 2016.

 

Pietro Sanchini - Shintaro

Detalhe Final



Bom Dia! Pensei em postar um poema falando da minha grande paixão pelos livros de Harlan Coben, mas não encontro o poema, então começarei por uma resenha de “Detalhe Final”. Harlan atualmente é um dos grandes autores da área dos romances policiais, não barra a poderosa Agatha Christie, os crimes destas continuam tão complexos, porém Harlan não fica para trás ao mostrar uns enredos tão bem desenhados e tão instigantes. Abrir as páginas dos livros é apenas o chamado inicial para uma noite sem dormir. Você não para, você quer descobrir tudo antes dos protagonistas, mas chega de falar, vamos lá. 

 “Detalhe Final” faz parte da série protagonizada por Myron Bolitar e seus amigos, Win e Esperanza, vale ressaltar que o livro não é atual, foi publicado tem uns 20 anos ou mais, não sei ao certo, uma pesquisada no Wikipédia ajudaria! Ou seja, ao ler “Detalhe Final” encontrarão expressões em desuso o que torna a coisa mais interessante, inclusive algumas gírias usadas atualmente, só que não (vocês entenderão). 

Myron é um ex-jogador de basquete e atualmente cuida da carreira de muitos esportistas, é um agente esportivo de renome e nas horas vagas atua como investigador ao lado de Win o psicopata mais querido da obra, é o oposto do amigo, talvez seja por isso a grande cumplicidade e amizade entre ambos. 

 Myrion está ao lado da linda, inteligente e encantadora Terese Colins (eu também sou apaixonado por essa mulher), ele resolveu fugir com ela para uma ilha paradisíaca depois de uma fatalidade que aconteceu em sua vida (sem spoiler) e de durante três semanas esqueceu do mundo e de todos. Narrado em primeira pessoa, temos uma visão sincera do protagonista, o que ele pensa, sente e suas dúvidas sobre moralidade o que leva normalmente a cometer falhas que podem ser cruéis. Sua insistência de encontrar a verdade- tenho que concordar com Esperanza- podem acabar ferindo aqueles que estão à sua volta, mas ele não descansa e quem o conhece sabe disso. 

 As férias terminam com a chegada de seu amigo Win que traz  uma notícia nada agradável. Clu Haid, um dos clientes mais antigos e problemáticos, foi assassinado e a principal suspeita é Esperanza, melhor amiga e sócia de Myron. Assim a “felicidade” de Myron termina e volta a Nova York para provar a inocência de sua amiga, ou não. Existem muitas verdades e algumas são fatais. Os personagens continuam fascinantes, Coben conhece o submundo de Nova York e detalha isso de uma forma genial e mais uma vez nos lembra dos poderosos e terríveis irmãos Ache, não aparecem, porém, são citados.

 As coisas começam a complicar quando é negada a fiança e Esperaza segue presa, pedindo a Myron para deixar tudo isso de lado, ela não quer sua ajuda. Isso intriga Myron e o deixa magoado, no entanto não desiste mesmo com medo de descobrir a verdade.

 Embora problemático, Clu Haid era pai, marido e filho.  Myron vai perdendo seus clientes e um chantagista bate à sua porta! Vejam só, Harlan trabalha com histórias que aparentemente nada tem a ver com o caso, mas colocando as peças no lugar certo tudo fica lindo e perfeito. O cara não deixa furos!

 Leitura ágio, gostosa e de fácil assimilação, personagens cativantes e cruéis recheiam a história. Os melhores diálogos ficam nas presenças de Win e Myron, risos garantidos e claro o mais interessante é o diálogo entre Myron e Sophie Mayior a personagem mais cativante da história, na minha opinião. As pitadas de humor ácido estão melhores, é possível rir e refletir! Até que ponto somos honestos, morais e éticos, será possível colocar isso de lado para salvar um amigo?.

 Harlan Coben é um dos meus autores favoritos justamente por não colocar apenas mais um “quem matou? ” nos livros e sim por nos fazer refletir temas tão importantes, amizade, amor, respeito, moralidade, preconceito e ética. Indico, vocês irão gostar.

P.S Logo mais posto outra resenha de uma história independente chamada "O Inocente" do mesmo autor. 

Abraços e bom final de semana, amigos!

Jackson Macedo